Vivemos na era da hipermodernidade, marcada pela intensidade e a urgência do quotidiano, das mudanças que acontecem a um ritmo frenético, evidenciado pelo efémero, num estado de desorientação que experimentamos em virtude de sermos ‘animais territorializados’ num mundo em que a desterritorialização é geral, onde o ciberespaço floresce como um terreno «virtual» paradoxal.
A desorientação vem aumentando devido à aceleração que o desenvolvimento tecnológico vem experimentando nos últimos tempos, e que cruza dramaticamente o atraso entre o sistema tecnológico e as organizações sociais, mostrando que as nossas formas tradicionais de pensar e actuar se encontram ultrapassadas.
A interpenetração entre social e técnico evidencia que o social não acompanha o técnico e o virtual, e este apresentando-se rico em possibilidades, manifesta a necessidade de refundar as fronteiras entre o conhecimento científico e a sua aplicação, numa revisão radical que permita alargar o humano e projectar-se no espaço e no tempo, encarando o mundo como uma virtualidade passível de se actualizar, em que a característica fundamental é a capacidade de antecipar, de detectar e aproveitar oportunidades, de criar, inovar e empreender, sendo necessário vencer as resistências castradoras do Estado, das Instituições e das Empresas, bem como as resistências intrínsecas a todos e a cada um de nós.
Esta refundação tem manifestamente consequências políticas: o problema não se situa na mudança, mas na mobilização para a mudança contra as inércias e resistências. Do ponto de vista do pensamento, das políticas e da acção, é assim premente a mobilização social das competências disponíveis, para acompanhar o ritmo: quer o ritmo da mudança per si, quer o ritmo das acelerações e dos diferenciais de desenvolvimento que temos em défice relativamente a outros países.
Portugal continua afastado dos principais países europeus, em que a escassez de recursos humanos e materiais, e o quadro institucional vigente, continuam a evidenciar um atraso estrutural significativo. O modelo de crescimento prevalecente manifesta reduzidas interligações entre os tecidos sociais, económicos e científicos, com reduzido potencial de adaptabilidade, de inovação e de sustentabilidade, que não saem de uma postura passiva de adaptação à envolvente, resultando em baixos níveis de competitividade, dinamismo, produtividade, e pouca geração de valor acrescentado.
Salvaguardando notáveis excepções, a qualidade inovadora da generalidade das instituições e das empresas (existentes e criadas) é inferior à verificada na maioria dos países europeus. As empresas, instituições e empreendedores(as) evidenciam dificuldades de financiamento para inovação, virtude da escassez de mecanismos de partilha de riscos. Os efeitos induzidos da inovação sobre o desenvolvimento social, económico e a competitividade são assim também menores, menos sustentáveis e ocorrem mais lentamente.
Para vencer este diferencial, é necessário evoluir para um novo modelo competitivo, caracterizado pela inovação e empreendedorismo, com uma filosofia de aceleração qualitativa, de antecipação e diferenciação, para enfrentar com sucesso os desafios que se colocam à economia e à sociedade portuguesas.
Reconhecendo esforços para ultrapassar as insuficiências, através de parcerias, de redes ou pólos de cooperação empresarial, e ligação com instituições de apoio (centros tecnológicos, de formação, empresas de prestação de serviços avançados às empresas, etc.), a grande maioria das empresas e das instituições não efectuam este tipo de actividades.
As políticas públicas portuguesas têm assim de ser dirigidas e focalizadas para o estímulo e fomento das redes de inovação e empreendedorismo, através da mobilização de todos os agentes: universidades, instituições, empresas, sociedade, com uma orientação estratégica consistente com os novos paradigmas de desenvolvimento, e instrumentos de políticas públicas dirigidos a estimular a endogeneização de capacidades e competências tecnológicas, das empresas e das instituições, realização de actividades de investigação e desenvolvimento, de investimento em inovação, e do fomento do empreendedorismo qualificado como instrumento inovador e regenerador de tecidos económicos sectoriais, regionais ou urbanos.
Por forma a contribuírem decisivamente para, numa primeira instância vencer a resistência e a inércia, e ter uma capacidade de antecipação e de adaptação ao risco, e simultaneamente acompanhar e dinamizar o ritmo de desenvolvimento, com um lema vincado de empreender, empreender sempre:
“Stay in. On in. Still. All of old. Nothing Else Ever. Ever tried. Ever failed. No matter. Try again. Fail again. Fail better.” (Becket, 1983).
domingo, 21 de outubro de 2007
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