domingo, 21 de outubro de 2007

Tentar. Falhar. Tentar de Novo. Falhar de Novo. Falhar Melhor!

Vivemos na era da hipermodernidade, marcada pela intensidade e a urgência do quotidiano, das mudanças que acontecem a um ritmo frenético, evidenciado pelo efémero, num estado de desorientação que experimentamos em virtude de sermos ‘animais territorializados’ num mundo em que a desterritorialização é geral, onde o ciberespaço floresce como um terreno «virtual» paradoxal.

A desorientação vem aumentando devido à aceleração que o desenvolvimento tecnológico vem experimentando nos últimos tempos, e que cruza dramaticamente o atraso entre o sistema tecnológico e as organizações sociais, mostrando que as nossas formas tradicionais de pensar e actuar se encontram ultrapassadas.

A interpenetração entre social e técnico evidencia que o social não acompanha o técnico e o virtual, e este apresentando-se rico em possibilidades, manifesta a necessidade de refundar as fronteiras entre o conhecimento científico e a sua aplicação, numa revisão radical que permita alargar o humano e projectar-se no espaço e no tempo, encarando o mundo como uma virtualidade passível de se actualizar, em que a característica fundamental é a capacidade de antecipar, de detectar e aproveitar oportunidades, de criar, inovar e empreender, sendo necessário vencer as resistências castradoras do Estado, das Instituições e das Empresas, bem como as resistências intrínsecas a todos e a cada um de nós.

Esta refundação tem manifestamente consequências políticas: o problema não se situa na mudança, mas na mobilização para a mudança contra as inércias e resistências. Do ponto de vista do pensamento, das políticas e da acção, é assim premente a mobilização social das competências disponíveis, para acompanhar o ritmo: quer o ritmo da mudança per si, quer o ritmo das acelerações e dos diferenciais de desenvolvimento que temos em défice relativamente a outros países.

Portugal continua afastado dos principais países europeus, em que a escassez de recursos humanos e materiais, e o quadro institucional vigente, continuam a evidenciar um atraso estrutural significativo. O modelo de crescimento prevalecente manifesta reduzidas interligações entre os tecidos sociais, económicos e científicos, com reduzido potencial de adaptabilidade, de inovação e de sustentabilidade, que não saem de uma postura passiva de adaptação à envolvente, resultando em baixos níveis de competitividade, dinamismo, produtividade, e pouca geração de valor acrescentado.

Salvaguardando notáveis excepções, a qualidade inovadora da generalidade das instituições e das empresas (existentes e criadas) é inferior à verificada na maioria dos países europeus. As empresas, instituições e empreendedores(as) evidenciam dificuldades de financiamento para inovação, virtude da escassez de mecanismos de partilha de riscos. Os efeitos induzidos da inovação sobre o desenvolvimento social, económico e a competitividade são assim também menores, menos sustentáveis e ocorrem mais lentamente.

Para vencer este diferencial, é necessário evoluir para um novo modelo competitivo, caracterizado pela inovação e empreendedorismo, com uma filosofia de aceleração qualitativa, de antecipação e diferenciação, para enfrentar com sucesso os desafios que se colocam à economia e à sociedade portuguesas.

Reconhecendo esforços para ultrapassar as insuficiências, através de parcerias, de redes ou pólos de cooperação empresarial, e ligação com instituições de apoio (centros tecnológicos, de formação, empresas de prestação de serviços avançados às empresas, etc.), a grande maioria das empresas e das instituições não efectuam este tipo de actividades.

As políticas públicas portuguesas têm assim de ser dirigidas e focalizadas para o estímulo e fomento das redes de inovação e empreendedorismo, através da mobilização de todos os agentes: universidades, instituições, empresas, sociedade, com uma orientação estratégica consistente com os novos paradigmas de desenvolvimento, e instrumentos de políticas públicas dirigidos a estimular a endogeneização de capacidades e competências tecnológicas, das empresas e das instituições, realização de actividades de investigação e desenvolvimento, de investimento em inovação, e do fomento do empreendedorismo qualificado como instrumento inovador e regenerador de tecidos económicos sectoriais, regionais ou urbanos.

Por forma a contribuírem decisivamente para, numa primeira instância vencer a resistência e a inércia, e ter uma capacidade de antecipação e de adaptação ao risco, e simultaneamente acompanhar e dinamizar o ritmo de desenvolvimento, com um lema vincado de empreender, empreender sempre:

Stay in. On in. Still. All of old. Nothing Else Ever. Ever tried. Ever failed. No matter. Try again. Fail again. Fail better.” (Becket, 1983).